quinta-feira, 5 de abril de 2007

O desencontro de contas

Parece que o Fisco vai começar a congelar pagamentos a fornecedores que tenham dívidas fiscais (via Economia&Finanças).
Nada contra o conceito, que é, aliás, de senso-comum. Qualquer empresa faz encontro de contas com as empresas com que mantém uma dupla relação de cliente/fornecedor.
.
O problema em avançar com esta medida tem a ver com o seguinte:
em primeiro lugar o Estado, como cliente, tem um peso enorme na economia nacional, o que gera várias dependências directas e indirectas (o melhor exemplo é o das obras públicas, com dependência directa dos consórcios que ganham as obras, e as dezenas/centenas de sub-empreiteiros que estes contratam). Em segundo lugar, grande parte, se não a maior parte, dos pagamentos que o Estado efectua são a prazos muito mais dilatados do que os usualmente praticados no mercado. Daí que as empresas dependentes dos fornecimentos ao Estado, com os seus atrasos nos pagamentos, acabam por ver as suas tesourarias estranguladas, com as consequentes quebras de compromissos (pagamento a fornecedores, colaboradores e... fisco).
.
Esta iniciativa do Fisco tem o mesmo problema ético do da divulgação dos maiores credores fiscais. É uma espécie de "faz o que eu digo não faças o que eu faço", que fica sempre mal a qualquer pessoa, mas que fica muitissimo mal na "maior" pessoa (colectiva) de todas: o Estado.
.
Não tenho absolutamente nenhuma dúvida que as dívidas fiscais teriam uma franca redução se o Estado pagasse a horas. Seria bom que começassem por aí.

Sem comentários: