Os pais quiseram-no advogado e lá foi ele direito para a Universidade. Demorou 7 anos ou uma eternidade - consoante a sua versão ou da senhora da secretaria - a tirar o curso, em que de prático aprendeu a escrever a lápis em letras pequenas e com tal força, que os seus escritos depois de apagados, se sentiam como braille.
Divertiu-se depois a recolher assinaturas nos tribunais, assistindo à esgrima de dramas domésticos, dívidas eternas ou desaguizados no trânsito matinal. Seguiu-se o vazio.
Pior que a sua média, só a reputação da sua Universidade, atributo que ele, na sua ingenuidade, achava próprio só de pessoas. Levou mais negas em 6 meses de envio de CVs do que em 7 anos de estudo. E ficou-se por casa.
Hoje, sentado no sofá dos pais, sente o sol que fura o estore da sala enquanto olha para o monte de envelopes que se estica em cima da mesa. "Já chega para o tabaco deste mês", pensou.
E deita-se no sofá, enquanto tenta decidir se jogará o Simão ou o Moutinho.
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DN 27/03/2007
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